Archivo de la categoría: Fernando Pessoa

“A correspondência de Fradique Mendes”, Eça de Queirós

A Poesia não se Inventou para Cantar o Amor A poesia não se inventou para cantar o amor — que de resto não existia ainda quando os primeiros homens cantaram. Ela nasceu com a necessidade de celebrar magnificamente os deuses, e de conservar na memória, pela sedução do ritmo, as leis da tribo. A adoração ou captação da divindade e a estabilidade social, eram então os dois altos e únicos cuidados humanos: — e a poesia tendeu sempre, e tenderá constantemente a resumir, nos conceitos mais puros, mais belos e mais concisos, as ideias que estão interessando e conduzindo os homens. Se a grande preocupação do nosso tempo fosse o amor — ainda admitiríamos que se arquivasse, por meio das artes da imprensa, cada suspiro de cada Francesca. Mas o amor é um sentimento extremamente raro entre as raças velhas e enfraquecidas. Os Romeus, as Julietas (para citar só este casal clássico) já não se repetem nem são quase possíveis nas nossas democracias, saturadas de cultura, torturadas pela ansia do bem-estar, cépticas, portanto egoístas, e movidas pelo vapor e pela electricidade. Mesmo nos crimes de amor, em que parece reviver, com a sua força primitiva e dominante, a paixão das raças novas, se descobrem logo factores lamentavelmente alheios ao amor, sendo os dois principais aqueles que mais caracterizam o nosso tempo: o interesse e a vaidade. Nestas condições, o amor que voltou a ser, como na Grécia, um Cupido pequenino e brincalhão, que esvoaça, surripiando aqui e além um prazer fugitivo — é removido para entre os cuidados subalternos do homem, muito para baixo do dinheiro, muito para baixo da política… É uma ocupação, sem malícia o digo, que se deixa para quando acabar o dia verdadeiro e útil, e com ele os negócios, as ideias, os interesses que prendem. «Já não há hoje nada de produtivo a fazer? Já não há nada de sério em que pensar?… Bem! Então, um pouco de perfume nas mãos, e abra-se a porta ao amor que espera!» A isto está reduzida a Vénus fatal e vencedora!
Ora quando uma arte teima em exprimir unicamente um sentimento que se tornou secundário nas preocupações do homem — ela própria se torna secundária, pouco atendida e perde a pouco e pouco a simpatia das inteligências. Por isso hoje, tão tenazmente, os editores se recusam a editar, e os leitores se recusam a ler, versos em que só se cante de amor e de rosas. E o artista que não quer ser uma voz clamando no deserto e um papel apodrecendo no armazém, começa a evitar o amor como tema essencial da sua obra.

Eça de Queirós©


“O Sonho dos Sonhos. A Brasilia desde Buenos Aires”, por Alejandro F. Della Sala

O Progresso e a sereia do Ordem.
Um sonho de Dom Bosco¹

“Ela falava coisas sobre o planalto Central, Também magia e meditação.
E o Eduardo ainda estava no esquema
“escola, cinema, clube, televisão.”
Eduardo e Mônica
(Renato Russo)²

 

Ontem tive um sonho de fazer um lugar novo, onde as pessoas compartilhavam os mais marcantes momentos de suas vidas. Tive também que escolher um artista que planejasse uma cidade, Oscar Niemeyer, outro que fizesse o plano piloto, Lucio Costa e também, o político ou os políticos necessários para desenvolver a ideia. Então, pensei num lugar muito especial. Teria que ser novo, com muita água e natureza virgem, que fosse o reflexo do modernismo da época. Teria que ter uma mistura entre Oswald de Andrade, o antropofagismo de Tarsila do Amaral, a poesia de Rubén Darío, com o multiculturalismo progressista de Gilberto Freyre junto com “o mais amado de todos”, Jorge Amado e o maior voador, o “homem que voava como os urubús”, o primeiro piloto de avião de todos os tempos, Santos Dumont. Do mesmo modo, também, necessitava de um romance símbolo: o romance moderno de Eduardo e Mônica e, além disso, precisava de um músico: Renato Russo, do grupo de rock Legião Urbana. 
Ainda assim, o desenho teria muitos espaços verdes, muita música, que seria portanto o reflexo desse momento, teria ademais essa ideia de liberdade que todos nós temos quando nos sentimos bem, quando consideramos que o futuro é nosso destino principal. Falando em música, deveríamos incluir algo de samba, misturada com bossa nova, tropicalismo e rock, muito rock para atrair a juventude ao projeto desenvolvido.
Concluida a obra e também para construir a cidade, se promoverão as mudanzas daqueles que queiram trabalhar e morar nesse novo espaço territorial, cheio de magia, religião e metafísica. E assim, por meio dum sonho coletivo, nasceu Brasilia. Começou com o sonho de Dom Bosco dum futuro melhor, passando pela Missão Crulz –o astrônomo pensador- e culminou com a realização de um político: o presidente “Bossa Nova” Juscelino Kubitschek.
Alguns consideram que esse projeto modernista já estava no pensamento do emperador Dom Pedro I, para proteger a gente e sua cultura das invaçöes dos outros impérios poderosos dessa época, por exemplo, o holandés e o inglés. 
Portanto, porquë não dizer que agora continua esse sonho coletivo feito realidade ou talvez não, já que consideramos que o mais importante é que as pessoas possam sonha-lo todos os dias para que esse sonho seja cada vez um pouco melhor do que outrora.
E para concluir, não levaremos um pouco de Brasilia dentro de cada um de nós, quando sonhamos _?

FONTES DE CONSULTA:

¹ “Diz à lenda que, em 1883, São João Bosco tiver um dos seus fantásticos sonhos sobre o aparecimento duma civilização na região central do país, entre os paralelos 15 e 20. Para marcar a materialização desse sonho, uma capela foi erigida no ponto exato onde fica o paralelo 15. Dali se tem uma bela vista de Brasília, do Lago Paranoá e do Palácio da Alvorada. No último domingo de agosto, há uma procissão e uma festa popular em comemoração do aniversario ao sonho de São João Bosco sobre Brasília”. (ibid.)

²Atualmente existe um monumento a Eduardo y Mönica, um casal da década dos 60 –uma sorte de ‘baby boomers brasileiros’- que virou em matrimônio típico de Brasília, localizado num parque dessa cidade capital da República.

Alejandro F. Della Sala©


"Me gusta decir. Diré mejor: me gusta palabrear…

"Me gusta decir. Diré mejor: me gusta palabrear. Las palabras son para mí cuerpos tocables, sirenas visibles, sensualidades incorporadas. Tal vez porque la sensualidad real no tiene para mí interés de ninguna especie -ni siquiera material o de ensueño, se me ha transmutado el deseo hacia aquello que crea en mí ritmos verbales, o los escucha de otros. Me estremezco si dicen bien".


Fernando Pessoa, Libro del desasosiego de Bernardo Soares, Seix Barral, Barcelona, 1985, p. 38, traducción al español de Ángel Crespo.